Ultraortodoxos pressionam Netanyahu, e oposição quer dissolução do Parlamento israelense

Um dos partidos que integram a coalizão de direita que governa Israel ameaçou, nesta quarta-feira, 4, romper com a administração do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e apoiar uma moção da oposição para dissolver o Parlamento (Knesset). A votação está prevista para a próxima semana.
A proposta, se aprovada por maioria simples — 61 dos 120 parlamentares —, levaria o país a eleições antecipadas e aumentaria a pressão sobre Netanyahu, conhecido como Bibi.
Pesquisas recentes indicam que sua coalizão seria derrotada em um novo pleito, reflexo da crescente insatisfação popular com a condução da guerra contra o grupo terrorista palestino Hamas, iniciada após os ataques de outubro de 2023.
Com 17 anos acumulados no cargo — entre 1996 e 1999, de 2009 a 2021 e desde 2022 —, Netanyahu é o primeiro-ministro mais longevo da história de Israel.
No centro da crise está a polêmica sobre o serviço militar obrigatório.
O United Torah Judaism, um dos dois partidos ultraortodoxos da base, ameaça apoiar a dissolução do Parlamento se não for aprovada uma lei que mantenha a isenção de jovens religiosos do alistamento.
A proposta de votação foi apresentada pelo ex-primeiro-ministro Yair Lapid, líder da oposição e do partido Yesh Atid. “Este Knesset está acabado. Não tem para onde ir”, declarou.
Netanyahu ainda não se manifestou.
A tensão aumentou após uma decisão da Suprema Corte, em 2023, que anulou a isenção automática de estudantes de seminários religiosos. Segundo a legislação israelense, o alistamento é obrigatório para homens e mulheres a partir dos 18 anos.
Um porta-voz de Yitzhak Goldknopf, líder do United Torah Judaism, afirmou à Reuters que o partido votará a favor da dissolução caso a nova legislação não seja aprovada.
Apesar da crise, o governo ainda tem margem para negociar. Um assessor próximo a Netanyahu, sob anonimato, disse que as conversas seguem em andamento.
A coalizão, composta por partidos de direita e religiosos, mantém maioria no Knesset. O United Torah Judaism tem sete cadeiras, e o Shas, outro aliado ultraortodoxo, controla 11 assentos.
Internamente, a coalizão está dividida. De um lado, os partidos religiosos exigem a isenção; de outro, aliados receiam a reação popular caso a medida avance.
Rejeitar a proposta pode levar à ruptura com os ultraortodoxos, mas aprová-la pode provocar protestos de outros setores da base.
Ohad Tal, do partido Sionismo Religioso, criticou Goldknopf e pediu sua renúncia, afirmando que “uma isenção total do serviço militar não poderia ser implementada”.
Já o ex-deputado Ofer Shelah avaliou que Netanyahu pode estar apostando em um blefe dos aliados religiosos, já que eles também correm risco de derrota em eleições antecipadas, segundo as pesquisas.
A ameaça dos ultraortodoxos não é nova. Em março, eles já haviam pressionado o governo pela mesma questão. A tensão se intensificou com o avanço da guerra contra o Hamas e o aumento dos confrontos com o Hezbollah na fronteira com o Líbano.
Se mantiver o apoio da coalizão, Netanyahu só enfrentará novas eleições em 2026. No entanto, poucos governos israelenses completam um mandato inteiro.
Além da crise interna, o premiê enfrenta protestos de familiares de reféns e de setores da população que o responsabilizam por não ter impedido os ataques terroristas de 2023. Os manifestantes cobram o fim da guerra e a libertação dos israelenses ainda mantidos em cativeiro pelo Hamas na Faixa de Gaza.