Em discurso de despedida, Biden alerta para os perigos da formação de ‘oligarquia’ nos EUA

Joe Biden durante seu discurso de despedida do cargo de Presidente dos EUA - Foto: Pool da Casa Branca

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez na noite desta quarta-feira, 15, seu discurso de despedida do cargo diretamente do Salão Oval da Casa Branca. Durante a fala, desejou êxito ao sucessor, Donald Trump, e destacou preocupações com ameaças à democracia americana.

Ele iniciou o discurso comemorando o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas. O tratado, que entra em vigor no domingo, 19, foi elaborado por sua equipe em conjunto com mediações de Catar e Egito. Ele ressaltou o papel ativo dos Estados Unidos no acordo e classificou o avanço como uma conquista significativa de sua administração.

Apesar de destacar alguns feitos do governo, Biden reconheceu desafios enfrentados durante seu mandato, como a insatisfação popular com o alto custo de vida e questões relacionadas à imigração. Com uma aprovação em torno de 40%, segundo pesquisas recentes, ele admitiu que não conseguiu cumprir todas as promessas de campanha.

No entanto, Biden defendeu que sua gestão pavimentou um caminho para que o país continue avançando. Entre os destaques, mencionou a recuperação econômica pós-pandemia, a criação de milhares de empregos e o fortalecimento da OTAN, que ajudou a Ucrânia a resistir à invasão russa.

O presidente expressou preocupação com a formação de uma “oligarquia” nos Estados Unidos, ressaltando a necessidade de manter os ultra-ricos sujeitos às mesmas expectativas da classe média e trabalhadora.

Quero alertar o país sobre algo que me preocupa profundamente. Esta é uma preocupação séria: a concentração perigosa de poder nas mãos de um pequeno grupo de ultra-ricos e as consequências que surgem se o abuso desse poder não for controlado“, afirmou.

Ele prosseguiu: “Hoje, estamos vendo o surgimento de uma oligarquia nos EUA, baseada em extrema riqueza, poder e influência, que ameaça toda a nossa democracia, nossos direitos fundamentais, nossas liberdades e uma oportunidade justa para todos progredirem.

Biden também fez uma comparação com os “barões ladrões” do século passado, cujos abusos de poder foram combatidos por práticas antitruste, uma questão que ele também tornou prioridade durante sua presidência, mais de cem anos depois.

Eles não puniram os ricos. O que fizeram foi impor que jogassem pelas mesmas regras que todos os outros. Os trabalhadores queriam garantir seu direito a uma parte justa”, explicou Biden.

Esses esforços criaram a maior classe média e o período mais próspero que qualquer nação já conheceu. Precisamos fazer isso novamente“, concluiu.

Outro ponto crítico abordado foi o impacto da desinformação. Biden citou o recente encerramento de programas de checagem de fatos, como o da Meta, empresa controladora do Facebook e do Instagram. A medida, tomada na semana anterior, foi vista por muitos como um aceno a Trump.

Segundo Biden, os americanos estão “enterrados em desinformação”, e a imprensa livre está “desmoronando”. Ele defendeu que as plataformas de redes sociais sejam mais responsabilizadas pelo conteúdo publicado.

Sobre as mudanças climáticas, o presidente destacou que os efeitos nunca foram tão evidentes, mencionando os incêndios que devastaram a Califórnia nos últimos dias e deixaram mais de 20 mortos.

Ele criticou os esforços para reverter políticas ambientais implementadas por sua gestão e pediu urgência em ações para conter a crise.

Não devemos ser intimidados a sacrificar o futuro de nossos filhos e netos. Não temos tempo a perder“, disse Biden, em resposta às promessas de Trump de revogar medidas ambientais.

Aos 81 anos, Biden encerra uma carreira política que ultrapassa cinco décadas. Ele relembrou sua trajetória, desde o início como o senador mais jovem dos EUA, aos 30 anos, até chegar à presidência.

Durante a despedida, agradeceu à vice-presidente Kamala Harris, afirmando que seu governo priorizou valores democráticos e avanços sociais.

Embora tenha desistido de buscar a reeleição em 2023 devido à idade e pressões internas, Biden endossou Kamala Harris como candidata democrata, derrotada por Trump nas últimas eleições. Agora, ele transfere o cargo para alguém que classificou repetidamente como “uma ameaça existencial à democracia”.

Em sua carta de despedida, divulgada no mesmo dia, Biden reafirmou compromissos de campanha, destacando ações como o combate à pandemia, o apoio à indústria nacional e a redução do custo de medicamentos. Ele encerrou sua mensagem com um tom de gratidão:

Dei meu coração e minha alma à nossa nação e fui abençoado milhões de vezes em troca pelo amor e apoio do povo americano.

Assista à íntegra do discurso de despedida do presidente Joe Biden abaixo:

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