Candidato pró-UE vence rival de extrema direita em virada surpreendente na eleição presidencial da Romênia

Em uma virada surpreendente, o prefeito centrista e pró-europeu de Bucareste, Nicușor Dan (foto), venceu neste domingo, 18, o segundo turno das eleições presidenciais da Romênia.
Aos 55 anos, Dan superou o nacionalista George Simion, de 38, com cerca de 54% dos votos após a apuração de 90% das urnas, contra 46% do adversário.
No entanto, Simion, conhecido por sua admiração pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo líder russo Vladimir Putin, recusou-se a reconhecer o resultado.
Em vez disso, se autoproclamou “novo presidente da Romênia”, alegando “fraude”.
No primeiro turno, realizado em 4 de maio, o ultradireitista havia liderado a disputa com quase 41% dos votos — o dobro do conquistado por Dan à época.
A mobilização popular nas semanas seguintes, no entanto, alterou o rumo da eleição, vista como decisiva para o futuro europeu da Romênia, país vizinho da Ucrânia.
A participação no segundo turno subiu para quase 65%, bem acima dos 53% registrados anteriormente.
Ucrânia no centro da campanha
O presidente da Romênia tem papel estratégico: indica cargos-chave e participa de reuniões da União Europeia e da Otan.
Por isso, a eleição atraiu atenção internacional, especialmente em meio à ascensão da extrema direita na Europa.
Os EUA, críticos da anulação do primeiro turno em novembro por suspeitas de ingerência russa, pediram respeito ao resultado das urnas.
Com 19 milhões de habitantes, a Romênia é membro da UE e tem sido peça central na Otan desde o início da guerra na Ucrânia.
“Não podemos nos dar ao luxo de nos afastar do caminho europeu”, disse Luminita Toader, aposentada de 82 anos, em Bucareste. Ela teme que o país “olhe para o leste”.
Matemático e defensor ferrenho da causa ucraniana, Nicușor Dan adota um perfil discreto, o que lhe rendeu críticas durante a campanha.
Já Simion, ex-líder de torcida envolvido em episódios de violência, tentou moderar seu discurso nos últimos meses.
Apesar disso, continuou atacando as “políticas absurdas da UE” e os “burocratas sem rosto”. Ele propõe o fim da ajuda militar à Ucrânia e cobra “compensação financeira” pelo apoio já prestado.
Atualmente, a Romênia treina pilotos ucranianos, doou um sistema Patriot a Kiev e fornece apoio logístico para exportações de grãos via o porto de Constanta, no mar Negro.
Clima tenso e denúncias de interferência
O slogan de Simion, “Devolver a dignidade à Romênia”, atraiu eleitores frustrados com a corrupção política, a inflação e a pobreza — a Romênia é um dos países mais carentes da UE.
Muitos também se sentem marginalizados dentro do bloco europeu, segundo relatos colhidos pela agência AFP.
O ambiente político tenso remonta a novembro de 2024, quando o ultradireitista Calin Georgescu venceu uma eleição posteriormente anulada devido a suspeitas de interferência estrangeira.
Desconhecido até então, Georgescu usou o TikTok para impulsionar sua campanha. Após ser indiciado, foi impedido de disputar a nova eleição, gerando protestos — alguns violentos.
Neste domingo, as autoridades voltaram a denunciar uma “campanha viral de desinformação” nas redes sociais, com “marcas claras de ingerência russa”.
A acusação foi feita pouco depois de uma mensagem do fundador do Telegram, Pavel Durov, que, sem citar nomes, acusou a França de tentar interferir na eleição. Paris negou categoricamente qualquer envolvimento.
À saída das urnas, muitos romenos demonstraram cansaço com o cenário instável. “Tem sido um caos na Romênia” desde a anulação das eleições, desabafou Runa Petringenaru, organizadora de eventos de 55 anos.
A expectativa agora é que o país retome a normalidade política e reafirme seu compromisso com os valores europeus.