Serviço de Inteligência da Alemanha classifica partido AfD como ‘extremista de direita’

O Serviço de Inteligência Interna da Alemanha anunciou nesta sexta-feira, 2, que classificou o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma “organização extremista de direita”, abrindo caminho para uma vigilância mais ampla sobre suas atividades em todo o país.
O AfD ficou em segundo lugar nas eleições nacionais de fevereiro e, com essa designação, passa a ser monitorado com uso de informantes, gravações e outros meios legais.
De acordo com o Escritório Federal para a Proteção da Constituição, o partido representa uma ameaça à ordem democrática alemã por “desrespeitar a dignidade humana”, especialmente por meio de uma “agitação contínua” contra refugiados e migrantes.
O serviço de inteligência afirmou que a visão do AfD sobre identidade nacional é “incompatível com a ordem democrática livre”, pois se baseia em critérios étnicos e exclui determinados grupos da participação igualitária na sociedade.
“O partido visa excluir certos grupos populacionais da participação igualitária na sociedade, sujeitando-os a discriminação inconstitucional e atribuindo-lhes um status legalmente inferior”, destacou o órgão. “Especificamente, por exemplo, o AfD não considera cidadãos alemães com histórico migratório de países predominantemente muçulmanos como membros plenos do povo alemão, segundo a definição étnica do partido.”
O relatório também aponta que a retórica do AfD alimenta hostilidade e medo contra minorias, com base em declarações “xenofóbicas, antiminorias, anti-islâmicas e antimuçulmanas” feitas por seus dirigentes.
A legenda já estava sob observação do BfV por ligações com grupos extremistas e por seus laços com a Rússia. Dos 38.800 extremistas de direita identificados na Alemanha no último ano, mais de 10 mil seriam membros do AfD.
A ministra do Interior, Nancy Faeser, afirmou que a decisão foi “clara e inequívoca”, baseada em uma investigação neutra e extensa de 1.100 páginas, conduzida sem interferência política.
A classificação, no entanto, não implica em uma proibição do partido, o que só pode ocorrer mediante solicitação de uma das câmaras do Parlamento ou do governo federal ao Tribunal Constitucional.
Fundado em 2013, o AfD surgiu como uma força contrária aos resgates financeiros na zona do euro.
Com o tempo, deslocou-se para a extrema direita, ganhando destaque nacional ao se opor à política migratória da então chanceler Angela Merkel, que permitiu a entrada de milhares de refugiados em 2015.
Atualmente, braços estaduais do partido já haviam sido classificados como “comprovadamente extremistas de direita” pelos serviços de inteligência da Turíngia, Saxônia e Saxônia-Anhalt.
A decisão também reacendeu o discurso do partido de que está sendo perseguido politicamente. Os líderes Alice Weidel e Tino Chrupalla criticaram a medida, chamando-a de “um golpe severo para a democracia alemã” e afirmando que ela teve motivações políticas — o que o governo nega.
“O AfD continuará a se defender legalmente contra essas difamações que colocam a democracia em risco”, declararam.
Apesar da crescente rejeição por parte das autoridades, o AfD segue ganhando espaço na política europeia, inclusive atraindo atenção internacional.
O bilionário Elon Musk, aliado do presidente dos EUA, Donald Trump, é um dos que já manifestaram apoio ao partido.