Parlamento do Reino Unido aprova intervenção em siderúrgica para evitar colapso da indústria britânica do aço

Planta da British Steel em Scunthorpe, no norte da Inglaterra – Foto: Jamie Lashmar/PA via AP

O Parlamento do Reino Unido aprovou neste sábado, 12, uma legislação emergencial que autoriza o governo britânico a intervir diretamente na British Steel, segunda maior siderúrgica do país.

A medida visa impedir o fechamento dos dois últimos altos-fornos britânicos ainda em operação, localizados em Scunthorpe, no norte da Inglaterra.

O projeto, batizado de Steel Industry (Special Measures) Act 2025, foi proposto pelo governo do primeiro-ministro Keir Starmer e aprovado por unanimidade tanto na Câmara dos Comuns quanto na Câmara dos Lordes, recebendo ainda no mesmo dia o aval do Rei Charles III.

Foi a primeira vez desde a Guerra das Malvinas, em 1982, que o Parlamento britânico foi convocado para uma sessão extraordinária em um sábado.

Entenda o caso

Desde 2020, a British Steel está sob controle do conglomerado chinês Jingye Group. No início de abril, a empresa anunciou planos para encerrar a produção de aço primário em Scunthorpe, o que, na prática, deixaria o Reino Unido sem capacidade doméstica de produção de aço a partir do minério de ferro — algo inédito entre os países do G7.

O fechamento ameaça cerca de 3.500 empregos diretos, além de milhares de postos indiretos em cadeias industriais e logísticas.

O que diz a nova lei

Com a nova legislação, o governo britânico passa a ter poder para:

  • Assumir temporariamente o controle operacional da British Steel;
  • Fornecer matérias-primas e suporte técnico para manter os altos-fornos em funcionamento;
  • Impor sanções criminais a executivos que tentem paralisar as atividades sem autorização governamental;
  • Viabilizar uma possível transferência de propriedade ou até uma nacionalização futura.

O governo disponibilizou um fundo de 2,5 bilhões de libras (cerca de R$ 16 bilhões) para revitalizar o setor siderúrgico do país, e parte desses recursos será destinada à operação emergencial em Scunthorpe.

Apoio e críticas

A medida recebeu apoio de diversos setores da sociedade britânica, incluindo sindicatos, líderes empresariais e parlamentares da região afetada.

O Partido Trabalhista, atualmente no governo, liderou a proposta.

Já o Partido Conservador, maior força de oposição, votou a favor da legislação, mas criticou a ausência de uma cláusula de expiração para os poderes concedidos ao governo.

O Partido Liberal-Democrata também apoiou a medida, sugerindo emendas para garantir mais transparência e relatórios periódicos ao Parlamento.

Já partidos como o SNP (Escócia) e o Plaid Cymru (País de Gales) criticaram a limitação territorial da intervenção, que deixou de fora siderúrgicas como a Port Talbot, encerrada em 2024, no País de Gales.

Impasse com o grupo chinês

Segundo fontes oficiais, o governo britânico tentou negociar com a Jingye Group, oferecendo recursos para manter as operações.

No entanto, a empresa teria exigido centenas de milhões de libras adicionais sem garantias de que manteria os altos-fornos funcionando.

Diante da negativa e da ausência de investidores privados interessados, a intervenção estatal foi considerada o único caminho viável.

Importância estratégica

A decisão tem peso político e econômico. O aço britânico é considerado estratégico para setores como defesa, infraestrutura e transporte.

A ausência de capacidade própria deixaria o país vulnerável a importações e variações do mercado internacional.

Analistas apontam que, embora a intervenção evite o colapso imediato da indústria, o Reino Unido ainda precisará de uma política industrial de longo prazo para garantir a competitividade e a sustentabilidade do setor.

Você pode gostar...