Com apoio da esquerda e da extrema direita, Parlamento da França aprova moção de censura e derruba primeiro-ministro Barnier

Michel Barnier - Foto: Reprodução

A França viveu um momento histórico nesta quarta-feira, 4, com a derrubada do primeiro-ministro Michel Barnier (foto), em uma inédita aliança entre a esquerda e a extrema direita.

Barnier, um político veterano e pragmático, ocupava o cargo há apenas três meses, tornando-se o chefe de governo com o mandato mais curto da história recente da França.

Por ampla maioria, os deputados aprovaram contra ele uma moção de censura, mecanismo parlamentar que permite aos legisladores destituírem um chefe de governo caso estejam insatisfeitos com sua gestão. A votação precisava do apoio de 288 deputados, mas a oposição, formada pelos blocos de esquerda e extrema direita, somou quase 330 cadeiras, garantindo a aprovação da medida.

Contexto político e econômico

A crise foi desencadeada pela insatisfação generalizada com a escolha de Barnier, feita pelo presidente Emmanuel Macron.

Em maio, Macron surpreendeu ao antecipar as eleições legislativas, inicialmente previstas para 2027, como resposta à vitória da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu. Nas legislativas de junho, o bloco de esquerda obteve o maior número de votos, superando a Reunião Nacional, de Marine Le Pen, mas sem conquistar a maioria necessária para governar.

Diante desse cenário fragmentado, o presidente indicou Barnier, um nome de centro-direita, para o cargo de primeiro-ministro. A decisão provocou protestos e fomentou um diálogo inédito entre a esquerda e a extrema direita, que uniram forças para rejeitar o nome imposto por Macron.

Essa aliança improvável culminou na reprovação da proposta de orçamento apresentada pelo governo e, agora, na moção de censura que derrubou Barnier.

A insatisfação parlamentar foi agravada pela situação econômica delicada do país. O prêmio de risco da dívida francesa atingiu níveis próximos aos da Grécia, enquanto a crise política na Alemanha, que antecipou suas eleições legislativas para fevereiro, adiciona incertezas ao cenário europeu.

A instabilidade ocorre em um momento crítico para a União Europeia, a poucas semanas do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.

Consequências e próximos passos

Com a aprovação da moção de censura, Barnier deixa automaticamente o cargo, e Macron enfrenta um dilema: negociar com os partidos majoritários na Assembleia ou indicar um novo nome para primeiro-ministro.

Fontes do governo francês revelaram à Reuters que o presidente deve optar por uma nova indicação, mesmo correndo o risco de intensificar os protestos e desgastar ainda mais sua gestão. Um novo premiê pode ser anunciado até o fim de semana.

A moção de censura marca um evento sem precedentes desde 1962, quando o governo de Georges Pompidou foi derrubado durante a presidência de Charles de Gaulle. A atual conjuntura reflete uma Assembleia Nacional profundamente dividida em três blocos — esquerda, centro-direita e extrema direita —, incapazes de formar alianças duradouras.

A França, segunda maior economia da União Europeia, enfrenta agora uma encruzilhada política e econômica que pode impactar significativamente o futuro do bloco europeu e o papel do país no cenário internacional.

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