Rebeldes sírios lançam ofensiva contra regime de Assad e tomam controle de Aleppo

Rebeldes tomam o controle de Aleppo, na Síria (29/11/2024) - Foto: Ghaith Alsayed/AP

Grupos rebeldes opositores ao ditador sírio Bashar al-Assad lançaram nesta semana uma ofensiva inesperada contra o regime e assumiram o controle de Aleppo, a segunda maior cidade do país. Trata-se da primeira operação desse tipo desde que a região foi retomada por forças pró-Damasco em 2016.

Combatentes rebeldes foram vistos em áreas estratégicas da cidade. Vídeos divulgados mostram homens armados erguendo a bandeira da oposição e entoando “Deus é grande” em árabe em uma das praças centrais.

Outras gravações exibem oposicionistas no centro de Aleppo, com pelo menos um combatente armado declarando: “Somos os primeiros a chegar e os primeiros a conquistar.” Os rebeldes também afirmam ter tomado o controle do aeroporto local.

No entanto, a parte nordeste da cidade ainda parece permanecer sob domínio das forças do regime e de seus aliados.

Os rebeldes anunciaram a imposição de um toque de recolher de 24 horas, que começará às 17h (horário local) deste sábado, 30, com o objetivo de garantir “a segurança dos cidadãos e proteger propriedades públicas e privadas contra danos ou saques”.

O Ministério da Defesa da Síria informou que dezenas de soldados morreram na ofensiva em Aleppo. Embora tenha reconhecido a entrada de forças rebeldes na cidade, o órgão afirmou que elas “não conseguiram estabelecer posições sólidas” e destacou que reforços estão a caminho para uma contraofensiva.

Segundo relatos locais, os rebeldes enfrentaram pouca resistência do Exército sírio.

Em resposta ao avanço, a força aérea russa realizou ataques contra as forças rebeldes sírias nas províncias de Aleppo e Idlib na sexta-feira, 29, conforme divulgado pela mídia estatal de Moscou. O regime de Assad continua a depender fortemente do apoio do autocrata da Rússia, Vladimir Putin, para se manter no poder.

Na parte oeste da cidade, ataques aéreos registrados neste sábado resultaram em várias vítimas. Não está claro se as operações foram conduzidas por aeronaves sírias ou russas. Imagens impactantes mostram ao menos sete corpos e diversas pessoas com graves queimaduras.

Enquanto isso, forças curdas expandiram sua presença em bairros de Aleppo. Antes da ofensiva, essas forças controlavam dois bairros predominantemente curdos, mas agora avançaram para territórios previamente sob domínio do regime sírio.

A milícia curda YPG, historicamente em conflito com outros grupos rebeldes no norte da Síria, foi alvo de confrontos neste sábado dentro da cidade.

Imagens analisadas pela rede americana CNN mostram membros da aliança rebelde enfrentando combatentes curdos. Parte do grupo contra Assad sinalizou planos de avançar sobre áreas controladas por curdos na província de Aleppo, ao norte.

Os rebeldes fazem parte de uma coalizão recém-formada chamada “Comando de Operações Militares”, que reúne uma ampla gama de facções, incluindo grupos islâmicos e antigos aliados moderados dos Estados Unidos. A criação da aliança foi anunciada na quarta-feira, 27, pouco antes do ataque.

O tenente-coronel Hassan Abdelghani, um líder da coalizão, declarou que a missão é “libertar nossos territórios ocupados” do que ele descreveu como “regime criminoso” e das milícias iranianas.

Esta ofensiva marca o maior confronto em anos entre a oposição e o governo de Assad, no poder desde 2000. A guerra civil na Síria teve início durante a Primavera Árabe, em 2011, quando a repressão a protestos pró-democracia deu origem a uma rebelião armada.

O conflito escalou rapidamente com o envolvimento de potências regionais e mundiais, como Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos e Rússia, transformando-se no que especialistas chamam de uma “guerra por procuração”. O Estado Islâmico também conseguiu se estabelecer temporariamente na região antes de sofrer derrotas significativas.

Embora um cessar-fogo tenha sido firmado em 2020, os confrontos entre o regime e os rebeldes continuaram em intensidade reduzida. Mais de 300 mil civis já perderam a vida em mais de uma década de conflito, segundo a ONU, enquanto milhões foram deslocados de suas casas.

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