Receio de reação negativa entre progressistas levou Kamala Harris a desistir de entrevista com Joe Rogan

Kamala Harris e Joe Rogan — Foto: AP

O receio de reações negativas entre progressistas levou a candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris, a desistir de uma entrevista com o podcaster Joe Rogan, segundo membros de sua campanha.

A decisão gerou insatisfação em alguns setores do partido, ainda abalados após a vitória de Donald Trump na eleição.

A campanha de Harris e a equipe de Rogan, que tem uma audiência maior que várias emissoras de TV, chegaram a negociar a entrevista, e havia a expectativa de que a participação ajudasse Harris a se conectar com o público jovem masculino — um segmento que Trump vinha atraindo com sucesso.

Contudo, as conversas foram interrompidas devido a preocupações sobre a reação de alas mais à esquerda do Partido Democrata.

Jennifer Palmieri, ex-assessora de Harris e de seu marido, Douglas Emhoff, afirmou que a decisão foi motivada por resistência dentro da ala progressista da campanha. “Alguns de nossos funcionários progressistas foram contra, temendo uma repercussão negativa”, disse ela.

Ex-assessora da Casa Branca e integrante da campanha de Hillary Clinton em 2016, Palmieri foi uma das primeiras a detalhar a decisão, que, para alguns democratas, pode ter contribuído para a derrota de Harris.

Após a eleição, o partido busca entender as razões do fracasso, com alguns membros responsabilizando o presidente Joe Biden e outros criticando a estratégia de mídia da campanha, considerada cautelosa demais com meios alternativos.

Rogan, que declarou apoio a Trump na véspera da eleição, é amplamente considerado o podcaster mais popular do país, especialmente entre jovens do sexo masculino — um público que Trump conquistou ao longo do último ano com aparições em diversos canais da chamada “manosfera”.

Palmieri comentou que os vazamentos sobre as negociações entre Harris e Rogan criaram uma “situação estranha” com o podcaster.

De repente, Rogan ficou preocupado com a reação de sua audiência e com as demandas para que ele fosse duro com ela”, afirmou Palmieri durante uma conferência organizada pelo The Clearing House, grupo de pagamentos ligado a grandes bancos americanos.

A entrevista de Trump com Rogan já foi vista quase 50 milhões de vezes no YouTube, enquanto a do vice-presidente eleito JD Vance registrou 16 milhões de visualizações.

Em comparação, o discurso de Harris na Convenção Nacional Democrata foi assistido por cerca de 29 milhões de pessoas, e sua entrevista na Fox News atraiu menos de 8 milhões.

Ex-comentarista do UFC, Rogan conquistou uma audiência expressiva, principalmente masculina, com longas e informais conversas sobre temas variados, de artes marciais a política. No entanto, Rogan é uma figura polêmica.

Em 2022, artistas como Joni Mitchell retiraram suas músicas do Spotify em protesto contra a parceria da plataforma com o podcaster, após ele entrevistar um virologista crítico das vacinas contra a Covid-19.

Nesta semana, o senador democrata Bernie Sanders defendeu a participação de membros do partido em podcasts como o de Rogan.

Precisamos nos aproximar das mídias alternativas, há muitos podcasts com milhões de espectadores. Temos que estar nesses programas”, afirmou o senador em entrevista à CNN no último domingo, 10.

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